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A acetonitrila é um dos solventes mais utilizados em cromatografia líquida de alta eficiência (CLAE ou HPLC), desempenhando um papel essencial na separação e identificação de compostos. Sua popularidade se deve a um conjunto de propriedades físico-químicas favoráveis à análise cromatográfica, mas também levanta preocupações sobre a dependência global desse solvente. Neste artigo, exploramos as razões que tornam a acetonitrila indispensável, os desafios associados à sua escassez e as alternativas viáveis para minimizar a dependência desse composto.
O que é a Acetonitrila?
A acetonitrila (– CH₃CN) é um solvente orgânico pertencente à classe dos nitrilas. É um líquido incolor, volátil e miscível com água e muitos solventes orgânicos. Sua estrutura química simples e sua baixa viscosidade contribuem para seu uso generalizado em laboratórios e indústrias.
Como a Acetonitrila é Produzida? Principais Fontes
A acetonitrila é obtida principalmente como um subproduto da produção de acrilonitrila, um precursor na fabricação de polímeros como o poliacrilonitrila. Os principais produtores estão localizados na China, Estados Unidos e Europa, onde grandes instalações petroquímicas processam esse solvente em larga escala. Como a sua produção está atrelada à indústria de plásticos, variações na demanda por acrilonitrila impactam diretamente sua disponibilidade.
Propriedades que Favorecem o Uso na Cromatografia
A acetonitrila é amplamente utilizada em HPLC devido a:
Baixa viscosidade, que melhora a eficiência do fluxo da fase móvel e reduz a pressão do sistema.
Alta solubilidade, permitindo a dissolução de uma ampla gama de compostos.
Compatibilidade com detectores UV, pois apresenta baixa absorbância abaixo de 200 nm.
Boa eluotropia, facilitando a separação de compostos polares e apolares.
Rapidez na evaporação, o que acelera a preparação de amostras e processos de purificação.
Os Riscos da Dependência de Acetonitrila
A dependência global da acetonitrila pode causar desafios significativos para laboratórios e indústrias:
Oscilação de preços: Mudanças na produção de acrilonitrila impactam diretamente a oferta e preços da acetonitrila.
Escassez no mercado: Durante crises industriais, como ocorreu em 2008, laboratórios tiveram dificuldades em adquirir quantidades adequadas do solvente.
Impacto ambiental: Embora seja menos tóxica que outros solventes, a acetonitrila ainda representa um risco ambiental se descartada de forma inadequada.
Segurança no manuseio: Inflamável e tóxica em altas concentrações, requer cuidados no armazenamento e descarte.
O Caso da Escassez Global de 2008
No início do outono de 2008, uma crise global impactou severamente o fornecimento de acetonitrila. Muitos laboratórios foram pegos desprevenidos pela escassez iminente e enfrentaram dificuldades para manter suas análises em funcionamento. Outros, ao perceberem o problema, estocaram quantidades significativas do solvente. Ao contrário de solventes como o metanol, produzidos diretamente para fins industriais, a acetonitrila é gerada como subproduto da produção de acrilonitrila. Quando a produção de acrilonitrila diminui, a disponibilidade de acetonitrila também é afetada.
As principais causas da escassez em 2008 foram:
Fechamento de fábricas chinesas durante as Olimpíadas de Pequim para reduzir a poluição.
Impacto do furacão Ike na Costa do Golfo do Texas, que interrompeu a produção de um dos principais fornecedores norte-americanos.
Crise econômica global, que reduziu a demanda por acrilonitrila e, consequentemente, a produção de acetonitrila.
Esse evento causou uma alta expressiva nos preços, chegando a multiplicar os custos em até oito vezes. Laboratórios tiveram que buscar alternativas, como a redução do consumo, otimização de métodos e o uso de solventes substitutos.
Como Reduzir a Dependência da Acetonitrila?
Laboratórios podem adotar estratégias para minimizar a dependência desse solvente:
Otimização de métodos: Reduzir o volume de acetonitrila em métodos existentes.
Colunas mais curtas com o mesmo diâmetro interno ou Coluna mais curta com partículas menores: Permite o menor gasto de solvente.
Reciclagem de solvente ou destilação: A Reutilização pode ser uma via para a reutilização e uma vida maior para o consumo.
Uso de misturas de solventes: Combinações de metanol e tamponantes podem substituir parcialmente a acetonitrila.
Exploração de novas fases móveis: Pesquisas em solventes alternativos podem levar a novos padrões de separação cromatográfica.
Solventes Alternativos para Substituição
Embora a acetonitrila seja ideal para muitas aplicações, solventes alternativos podem ser utilizados:
Metanol: Mais barato e menos tóxico, mas com viscosidade maior e separação menos eficiente.
Etanol: Opção ambientalmente amigável, mas menos comumente utilizada em HPLC.
Misturas de água com isopropanol: Para algumas aplicações, oferecem separação viável com menor custo.
Conclusão
A acetonitrila é um solvente essencial para a cromatografia líquida devido a suas propriedades únicas. No entanto, sua dependência global e os riscos associados à sua disponibilidade incentivam a busca por alternativas viáveis. A adoção de estratégias para otimizar seu uso e explorar solventes substitutos pode garantir maior segurança e estabilidade nos processos laboratoriais.
Referências Bibliográficas
Snyder, L. R., Kirkland, J. J., Dolan, J. W. (2010). Introduction to Modern Liquid Chromatography. Wiley.
Poole, C. F. (2003). The Essence of Chromatography. Elsevier.
McMaster, M. C. (2007). HPLC: A Practical User's Guide. Wiley.
Estudos da IUPAC sobre solventes alternativos na cromatografia.
Edwin Bueno é engenheiro químico com mais de 13 anos de experiência em laboratórios analíticos e ênfase em técnicas cromatograficas, atuando em centenas de projetos de alta complexidade voltados ao controle de qualidade, desenvolvimento de métodos e conformidade regulatória. É fundador e diretor técnico do laboratório analítico Atual Labs, reconhecido por sua atuação ágil nos setores de nutrição e saúde animal.
Além de sua atuação técnica, Edwin é consultor de laboratórios e indústrias, contribuindo na resolução de problemas analíticos, otimização de processos, estruturação de equipes técnicas, expansão laboratorial e gestão, implementação de boas práticas que asseguram qualidade, agilidade e robustez nos resultados.





