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A busca por redução de custos no laboratório muitas vezes leva a práticas questionáveis que podem comprometer a qualidade das análises e a integridade dos resultados. Uma dessas práticas é a reutilização de vials (frascos utilizados em cromatografia líquida e gasosa), que, apesar de parecer uma economia inofensiva, pode trazer uma série de problemas técnicos e operacionais. Neste artigo, explicaremos por que essa prática é incorreta e quais são os riscos envolvidos.
Resíduos e Contaminação Cruzada
Mesmo após um processo de lavagem rigoroso, os vials podem reter resíduos de amostras, solventes ou contaminantes, que podem interferir nas análises seguintes. Isso ocorre porque:
Certos compostos podem adsorver na parede do vidro ou do plástico do vial, liberando-se posteriormente e contaminando novas amostras.
Resíduos de solventes utilizados na limpeza podem não evaporar completamente, interferindo na cromatografia e nos resultados analíticos.
A presença de traços de amostras anteriores pode resultar em contaminação cruzada, comprometendo a reprodutibilidade e a precisão das análises.
Degradação Física dos Vials e Tampas
Os vials e suas tampas são projetados para serem utilizados uma única vez, e a reutilização pode levar a problemas estruturais, como:
Microfissuras no vidro: Podem ocorrer devido às variações térmicas e mecânicas durante a limpeza e manipulação. Essas fissuras podem resultar em vazamento de amostras ou até mesmo na quebra do vial durante a análise.
Vedação comprometida: As tampas de septo, uma vez perfuradas pela agulha do amostrador automático, não oferecem mais a mesma vedação, podendo permitir a evaporação do solvente ou a entrada de contaminantes do ambiente.
Enfraquecimento químico: O material do vial pode ser atacado por solventes agressivos usados na lavagem, reduzindo sua integridade ao longo do tempo.
Impacto na Qualidade dos Resultados
A reutilização de vials pode levar a variações nos resultados analíticos, comprometendo a confiabilidade dos dados gerados. Alguns dos problemas mais comuns incluem:
Ruído de fundo elevado: Devido à presença de resíduos ou solventes da lavagem, aumentando o limite de detecção e mascarando picos de interesse.
Picos fantasmas: Contaminantes residuais podem gerar picos inesperados, dificultando a interpretação dos cromatogramas.
Reprodutibilidade comprometida: Pequenas variações na composição do vial e na vedação podem alterar a precisão dos resultados entre diferentes corridas analíticas.
Conformidade com Normas e Boas Práticas de Laboratório
Laboratórios que seguem normas rigorosas, como GLP (Good Laboratory Practice) e ISO 17025, devem garantir a rastreabilidade e a confiabilidade dos seus resultados. A reutilização de vials pode levar a não conformidades durante auditorias e inspeções regulatórias.
Boas Práticas de Laboratório (BPL/GLP) exigem controle rigoroso sobre possíveis fontes de contaminação e variabilidade analítica.
Normas da indústria farmacêutica e de alimentos não permitem a reutilização de vials devido ao risco de contaminação e impacto na qualidade dos produtos finais.
Conclusão: A economia que custa caro
A reutilização de vials pode parecer uma forma de reduzir custos operacionais no laboratório, mas os riscos associados podem levar a retrabalho, invalidação de análises e comprometimento da confiabilidade dos dados. O investimento em vials novos garante maior segurança, precisão e conformidade com as normas de qualidade, evitando problemas que poderiam gerar prejuízos muito maiores.
Se a sua meta é garantir análises robustas e livres de contaminação, nunca reutilize vials. O custo de um novo é insignificante quando comparado ao impacto negativo de resultados comprometidos.
Edwin Bueno é engenheiro químico com mais de 13 anos de experiência em laboratórios analíticos e ênfase em técnicas cromatograficas, atuando em centenas de projetos de alta complexidade voltados ao controle de qualidade, desenvolvimento de métodos e conformidade regulatória. É fundador e diretor técnico do laboratório analítico Atual Labs, reconhecido por sua atuação ágil nos setores de nutrição e saúde animal.
Além de sua atuação técnica, Edwin é consultor de laboratórios e indústrias, contribuindo na resolução de problemas analíticos, otimização de processos, estruturação de equipes técnicas, expansão laboratorial e gestão, implementação de boas práticas que asseguram qualidade, agilidade e robustez nos resultados.





