Por que colunas com partículas menores geram melhores resultados (e talvez mais DOR de cabeça)

Por que colunas com partículas menores geram melhores resultados (e talvez mais DOR de cabeça)

Este artigo aborda, do básico ao avançado, por que colunas com partículas menores oferecem resultados superiores, mas ao custo de maior complexidade no uso.

Este artigo aborda, do básico ao avançado, por que colunas com partículas menores oferecem resultados superiores, mas ao custo de maior complexidade no uso.

Por Edwin Bueno

Por Edwin Bueno

7 de agosto de 2025

7 de agosto de 2025

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A evolução tecnológica das colunas cromatográficas desempenhou papel crucial no aumento da eficiência e resolução da cromatografia líquida de alta eficiência (HPLC). Um dos marcos mais impactantes foi a introdução de colunas empacotadas com partículas menores frequentemente ≤2 µm que revolucionaram a performance analítica. No entanto, esse avanço trouxe também novos desafios operacionais e técnicos. Este artigo aborda, do básico ao avançado, por que colunas com partículas menores oferecem resultados superiores, mas ao custo de maior complexidade no uso.

1. Fundamentos da Eficiência Cromatográfica

A eficiência de uma coluna cromatográfica é frequentemente medida em número de pratos teóricos (N), que reflete o grau de separação alcançado. Quanto maior o N, mais estreitos e bem-resolvidos são os picos cromatográficos. A equação de Van Deemter, amplamente utilizada para explicar os fatores que influenciam a eficiência, relaciona N com o diâmetro das partículas:

Onde:

  • H: Altura equivalente a um prato teórico (menor = melhor eficiência)

  • u: Velocidade linear da fase móvel

  • A: Termo de múltiplos caminhos (empacotamento)

  • B: Difusão longitudinal

  • C: Resistência à transferência de massa

Partículas menores reduzem os termos A e C, promovendo separações mais eficientes, especialmente em altas velocidades lineares.

2. Vantagens de Colunas com Partículas Menores

2.1. Aumento da Eficiência

A diminuição do diâmetro das partículas melhora a eficiência da coluna (↓H, ↑N), permitindo resoluções superiores mesmo com colunas mais curtas.

2.2. Redução no Tempo de Análise

Partículas menores possibilitam o uso de maiores velocidades lineares sem perda significativa de eficiência, encurtando o tempo de corrida.

2.3. Maior Sensibilidade

Picos mais estreitos resultam em maior altura de pico e, portanto, melhor relação sinal/ruído, mesmo sem alterar o detector.

2.4. Otimização da Resolução

Com partículas menores, é possível melhorar seletividade e resolução entre compostos críticos sem depender de mudanças bruscas na fase móvel.

3. Limitações e “Dor de Cabeça” Operacional

Apesar dos benefícios, colunas com partículas menores impõem desafios práticos que exigem atenção especial.

3.1. Aumento de Pressão

Um dos efeitos colaterais mais críticos da redução do tamanho das partículas nas colunas cromatográficas é o aumento exponencial da pressão necessária para operar o sistema. A pressão é inversamente proporcional ao quadrado do diâmetro das partículas. Assim, partículas de 1.7 µm geram pressões muito superiores às de 5 µm, muitas vezes ultrapassando 600 bar, exigindo sistemas UHPLC. Isso é quantificado pela equação de Darcy modificada para cromatografia líquida, que define a queda de pressão (ΔP) ao longo da coluna:

Onde:

  • ΔP: Queda de pressão (Pa)

  • η: Viscosidade do solvente (Pa.s)

  • L: Comprimento da coluna (m)

  • u: Velocidade linear (m/s)

  • dₚ: Diâmetro médio das partículas (m)

  • K: Fator de permeabilidade (constante relacionada ao empacotamento da coluna)


Essa equação mostra que quanto menor o diâmetro das partículas (dₚ), maior será a pressão necessária para manter o mesmo fluxo de fase móvel. Como a relação é inversamente proporcional ao quadrado de dₚ, reduções sutis no tamanho das partículas causam aumentos significativos na pressão.

3.2. Consequências práticas da alta ΔP:

  • Exige o uso de bombas de alta pressão (como em UHPLC).

  • Aumenta o desgaste dos componentes do sistema cromatográfico.

  • Restringe a escolha de solventes, já que solventes mais viscosos aumentam ainda mais a ΔP.

  • Limita o comprimento útil da coluna, pois colunas longas com partículas pequenas tornam-se impraticáveis em pressões convencionais.


3.3. Maior Custo de Equipamento

Sistemas UHPLC (Ultra High Performance LC) são necessários para suportar as altas pressões, com materiais resistentes e volumes mortos minimizados.

3.4. Maior Exigência de Qualidade de Solventes e Amostras

Colunas com partículas sub-2 µm são mais suscetíveis a entupimentos. Portanto, filtragem rigorosa de amostras e eluentes é obrigatória, bem como controle do pH e da compatibilidade química.

3.5. Sensibilidade a Volumes de Injeção e Extra-Coluna

Devido ao menor volume interno da coluna, injeções com volumes excessivos ou sistemas com grandes volumes extra-coluna (tubulações, conectores, etc.) comprometem gravemente a eficiência.

4. Aplicações Típicas

Colunas de partículas sub-2 µm são ideais para:

  • Métodos que requerem alta resolução em pouco tempo (controle de qualidade com alta produtividade)

  • Análises de compostos com estruturas semelhantes (ex: isômeros)

  • Detecção acoplada à espectrometria de massas (LC-MS), onde a separação eficiente em pouco tempo é crucial


5. Quando Optar por Colunas com Partículas Maiores?

Apesar das vantagens, colunas com partículas de 3–5 µm ainda são amplamente utilizadas, especialmente quando:

  • O sistema não suporta alta pressão

  • A robustez e a longevidade da coluna são prioridades

  • Métodos são robustos e já validados (farmacopeicos)

  • Matrizes complexas

  • Amostra que exige menor sensibilidade

  • Matrizes muito sujas que podem acabar em entupimentos


6. Alternativas Tecnológicas: Núcleo Poroso

Uma alternativa interessante são as colunas com partículas de núcleo poroso (core-shell), que oferecem:

  • Alta eficiência similar à de partículas sub-2 µm

  • Pressões mais baixas que colunas totalmente porosas

  • Compatibilidade com sistemas convencionais de HPLC


São excelentes para modernizar métodos sem substituir todo o sistema analítico.


Conclusão

Colunas com partículas menores (<2 µm) oferecem ganhos inquestionáveis em eficiência, resolução e tempo de análise. Contudo, esses benefícios vêm acompanhados de exigências operacionais elevadas, maior custo e risco de instabilidade analítica caso as condições não sejam rigorosamente controladas. A decisão de utilizá-las deve considerar o equilíbrio entre performance analítica, infraestrutura laboratorial e robustez do método, lembrando que nem sempre a tecnologia mais avançada é a mais adequada à realidade operacional de cada laboratório.


Referências Bibliográficas

Snyder, L. R., Kirkland, J. J., & Dolan, J. W. (2011). Introduction to Modern Liquid Chromatography (3rd ed.). Wiley.

  • Neue, U. D. (1997). HPLC Columns: Theory, Technology, and Practice. Wiley-VCH.

  • Swartz, M. E., & Krull, I. S. (2012). U/HPLC: Ultra-High Performance Liquid Chromatography. LCGC North America.

  • Dong, M. W. (2006). Modern HPLC for Practicing Scientists. Wiley-Interscience.

  • Guiochon, G., Felinger, A., Shirazi, D. G., & Katti, A. M. (2006). Fundamentals of Preparative and Nonlinear Chromatography. Academic Press.

  • International Conference on Harmonisation (ICH) Q2(R1). Validation of Analytical Procedures: Text and Methodology.

  • Cappiello, A., Famiglini, G., Palma, P., & Trufelli, H. (2004). Advances in HPLC column technology. Journal of Chromatography A, 1052(1-2), 1–15.

  • Waters Corporation. (2020). Core-Shell vs. Fully Porous Particles in HPLC Column Design. Technical Note.


Edwin Bueno

Edwin Bueno é engenheiro químico com mais de 13 anos de experiência em laboratórios analíticos e ênfase em técnicas cromatograficas, atuando em centenas de projetos de alta complexidade voltados ao controle de qualidade, desenvolvimento de métodos e conformidade regulatória. É fundador e diretor técnico do laboratório analítico Atual Labs, reconhecido por sua atuação ágil nos setores de nutrição e saúde animal.

Além de sua atuação técnica, Edwin é consultor de laboratórios e indústrias, contribuindo na resolução de problemas analíticos, otimização de processos, estruturação de equipes técnicas, expansão laboratorial e gestão, implementação de boas práticas que asseguram qualidade, agilidade e robustez nos resultados.

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