Quais os Tipos de Águas Utilizadas em Laboratório e Suas Aplicações

Quais os Tipos de Águas Utilizadas em Laboratório e Suas Aplicações

A água não é apenas um solvente: é um reagente ativo e, muitas vezes, o elo mais frágil entre a boa ciência e um resultado inválido.

A água não é apenas um solvente: é um reagente ativo e, muitas vezes, o elo mais frágil entre a boa ciência e um resultado inválido.

Por Edwin Bueno

Por Edwin Bueno

26 de março de 2025

26 de março de 2025

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Em muitos laboratórios, a água é o reagente mais utilizado e, paradoxalmente, o mais subestimado. Seja em análises instrumentais, preparo de soluções ou lavagem de vidrarias, a qualidade da água influencia diretamente nos resultados e na segurança analítica. Este artigo técnico explora os principais tipos de água utilizados em ambientes laboratoriais, seus critérios de classificação, métodos de purificação e, principalmente, suas aplicações práticas.

Por que a Qualidade da Água é Crucial em Laboratório?

Mesmo em concentrações ínfimas, contaminantes presentes na água como íons, compostos orgânicos, partículas, microrganismos e endotoxinas podendo gerar:

  • Ruído de fundo em análises cromatográficas e contaminação de linhas.

  • Reagir com reagentes sensíveis, alterando a estequiometria das reações.

  • Causar obstruções e desgaste em sistemas de injeção e colunas analíticas.

  • Promover crescimento microbiológico em banhos e reservatórios.

  • Reduzir a vida útil de reagentes de alto custo.

A escolha do tipo correto de água para cada aplicação é, portanto, uma prática de controle de qualidade fundamental.

Classificação da Água em Laboratórios

A ASTM (American Society for Testing and Materials) e a CLSI (Clinical and Laboratory Standards Institute) são referências comuns para classificação da água em laboratórios. Essa classificação é feita com base em parâmetros como:

  • Resistividade elétrica (MΩ·cm)

  • Condutividade (µS/cm)

  • Conteúdo de carbono orgânico total (TOC)

  • Presença de endotoxinas e partículas

  • Carga microbiológica


Tipos de Água e Suas Aplicações


Água Tipo I – Ultrapura

Resistividade: ≥ 18,2 MΩ·cm

TOC: < 10 ppb

Aplicações:

  • HPLC, LC-MS, ICP-MS, GC-MS.

  • Preparo de padrões analíticos e reagentes traço.

  • Biologia molecular (PCR, cultivo celular).

  • Lavagem final de materiais sensíveis.



Água Tipo II – Alta pureza

Resistividade: ≥ 1 MΩ·cm

TOC: < 50 ppb

Aplicações:

  • Análises clínicas e bioquímicas

  • Preparo de tampões e soluções reagentes

  • Sistemas de alimentação para produção de água tipo I

  • Uso em autoclaves, banho-maria



Água Tipo III – Uso geral

Resistividade: ~ 0,05 – 0,5 MΩ·cm

Fonte: Normalmente obtida por osmose reversa

Aplicações:

  • Lavagem de vidrarias

  • Sistemas de climatização e lavadoras

  • Alimentação inicial de sistemas de purificação

  • Banhos e reações químicas não críticas



Água Destilada

Processo: Evaporação e condensação

Aplicações:

  • Preparação de soluções simples

  • Lavagem de materiais (não recomendada como única etapa)

  • Não remove compostos voláteis — uso limitado em análises sensíveis



Água Deionizada

Processo: Troca iônica (remoção de íons dissolvidos)

Aplicações:

  • Enxágue intermediário de vidrarias

  • Preparo de soluções e tampões

  • Pode ser combinada com outros sistemas de purificação


Principais Sistemas de Purificação de Água


a) Osmose Reversa (RO)

  • Remove até 98% dos sólidos dissolvidos totais (TDS), além de bactérias e partículas

  • É a base de muitos sistemas para produção de água tipo III

b) Troca Iônica

  • Utiliza resinas catiônicas e aniônicas para remoção de íons

  • Essencial na produção de água tipo II e I

c) Filtração com Carvão Ativado

  • Remove cloro, cloraminas e compostos orgânicos

d) Lâmpadas UV (185/254 nm)

  • Degrada matéria orgânica e inibe crescimento microbiológico


e) Filtros Submicrométricos (0,2 µm)

  • Remoção final de partículas e microrganismos antes do ponto de uso


Estratégias de Boas Práticas no Uso da Água

  • Utilizar a água certa para a aplicação correta. Evite desperdício de água ultrapura em atividades que poderiam ser feitas com água tipo II ou III.

  • Evitar estocagem prolongada. Água pura pode se recontaminar rapidamente em contato com o ar ou materiais inadequados.

  • Monitorar continuamente os parâmetros críticos. Resistividade, TOC e presença microbiológica devem ser controlados.

  • Manutenção periódica do sistema. Cartuchos saturados, biofilmes e falhas nos sensores afetam diretamente a qualidade da água.


Impactos da Água Contaminada nos Equipamentos e Análises

  • Íons metálicos: Interferência espectral e corrosão.

  • Compostos Orgânicos: Ruído em UV, Fluorescência ou LC-MS.

  • Partículas: Obstrução de injetores, Colunas e Filtros.

  • Microrganismos: Formação de biofilmes, alteração de pH e TOC.

  • Endotoxinas: Reações imunes em ensaios biológicos.


Considerações Finais

A água não é apenas um solvente: é um reagente ativo e, muitas vezes, o elo mais frágil entre a boa ciência e um resultado inválido. Avaliar, escolher e controlar rigorosamente o tipo de água utilizada em laboratório é uma das bases das boas práticas laboratoriais (BPL).

Seja você um analista, supervisor de laboratório ou pesquisador, compreender os diferentes níveis de pureza da água e suas aplicações práticas pode prevenir falhas analíticas e otimizar custos operacionais.


Referências Bibliográficas

  • ASTM D1193-06 (2018). Standard Specification for Reagent Water. ASTM International.

  • ISO 3696:1987. Water for analytical laboratory use — Specification and test methods.

  • CLSI C3-A4. Preparation and Testing of Reagent Water in the Clinical Laboratory; Approved Guideline — Fourth Edition.

  • Sartorius AG. (2020). Lab Water Guide.

  • MilliporeSigma. (2021). Laboratory Water Purification Guide.

  • Thermo Fisher Scientific. (2022). How to Select the Right Laboratory Water Purification System.


Edwin Bueno

Edwin Bueno é engenheiro químico com mais de 13 anos de experiência em laboratórios analíticos e ênfase em técnicas cromatograficas, atuando em centenas de projetos de alta complexidade voltados ao controle de qualidade, desenvolvimento de métodos e conformidade regulatória. É fundador e diretor técnico do laboratório analítico Atual Labs, reconhecido por sua atuação ágil nos setores de nutrição e saúde animal.

Além de sua atuação técnica, Edwin é consultor de laboratórios e indústrias, contribuindo na resolução de problemas analíticos, otimização de processos, estruturação de equipes técnicas, expansão laboratorial e gestão, implementação de boas práticas que asseguram qualidade, agilidade e robustez nos resultados.

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