Qualificação de Equipamentos: Cromatógrafo Líquido

Qualificação de Equipamentos: Cromatógrafo Líquido

Uma qualificação inadequada pode comprometer a precisão das análises, levando a resultados incorretos, retrabalho e até mesmo problemas regulatórios

Uma qualificação inadequada pode comprometer a precisão das análises, levando a resultados incorretos, retrabalho e até mesmo problemas regulatórios

Por Edwin Bueno

Por Edwin Bueno

20 de fevereiro de 2025

20 de fevereiro de 2025

Compartilhe em:

A cromatografia líquida de alta eficiência (HPLC – High Performance Liquid Chromatography) é uma das técnicas analíticas mais utilizadas em laboratórios farmacêuticos, veterinários, alimentícios e ambientais. No entanto, a confiabilidade dos dados gerados depende diretamente da qualificação do equipamento, garantindo que ele opere dentro de especificações e forneça resultados precisos e reprodutíveis.

Mas quais são as etapas essenciais da qualificação de um HPLC? Como diferenciar esse processo da calibração? E qual deve ser a periodicidade da qualificação? Vamos explorar esses tópicos neste artigo.

Qualificação de Equipamentos: O que é e por que é necessária?

A qualificação do HPLC consiste em um conjunto de testes documentados que comprovam que o equipamento foi instalado corretamente, opera conforme especificações técnicas e fornece resultados confiáveis.

Este processo segue diretrizes rigorosas de órgãos reguladores como ANVISA, FDA e EMA, além de normas como ISO 17025 e GMP (Good Manufacturing Practices).

Uma qualificação inadequada pode comprometer a precisão das análises, levando a resultados incorretos, retrabalho e até mesmo problemas regulatórios.

Etapas da Qualificação de um Cromatógrafo Líquido

A qualificação do HPLC ocorre em quatro etapas fundamentais:

1. Qualificação de Instalação (QI)

Garante que o equipamento foi instalado corretamente e de acordo com as especificações do fabricante. Inclui:


  • Verificação da infraestrutura:


Teste: Transporte do Sistema

Parâmetro: Aprovado

Limite: Aprovado


Teste: Checagem do Espaço Físico e Bancada

Parâmetro: Aprovado

Limite: Aprovado


Teste: Condições Ambientais do Local a Ser Instalado

Parâmetro: Temperatura e Umidade Relativa do Ar

Limite: Temperatura Ambiente: 20 a 25°C Umidade Rel. do Ar: ≤ 75%


Teste: Checagem da Voltagem Elétrica e tomadas de Acordo com a Norma ABNT

Parâmetro: 110/220V

Limite: 117 a 127V / 217 a 227V / 2V para o terra



  • Conferência dos componentes:


Teste: Inspeção Visual do Equipamento

Parâmetro: Aprovado

Limite: Aprovado


Teste: Verificação de Acessórios do Equipamento

Parâmetro: Aprovado

Limite: Aprovado


Teste: Execução de todas as verificações e testes descritas no protocolo

Parâmetro: Aprovado

Limite: Aprovado


Teste: Checagem de Inicialização do Sistema

Parâmetro: Nenhuma Mensagem de Erro

Limite: Nenhum Erro Evidenciado

  • Registro dos certificados: de conformidade e manuais técnicos.


2. Qualificação de Operação (QO)

Nesta fase, são realizados testes para validar que cada módulo do HPLC opera corretamente dentro das especificações. Isso inclui:

  • Bomba (400bar):

Teste: Exatidão do Gradiente

Parâmetro: 10%, 50%, 90% e 100% AB e CD

Limite: ± 1%


Teste: Exatidão e Precisão do Fluxo

Parâmetro: 0,5 / 1,0 / 2,0mL/min

Limite: ± 1% e RSD ≤ 0,5%



  • Injetor automático:

Teste: Precisão do Volume de Injeção

Parâmetro: 10, 20 e 30uL

Limite: Área RSD ≤ 0,5%


Teste: Carry Over

Parâmetro: 20uL

Limite: Área Carry Over ≤ 0,20%


Teste: Exatidão da temperatura dos vials

Parâmetro: Temperatura: 4,0°C

Limite: Desvio ± 2,0°C



  • Detector (UV):

Teste: Linearidade

Parâmetro: 6 injeções de volumes de um padrão rastreável

Limite: r² ≥ 0,99900


Teste: Exatidão do Comprimento de Onda

Parâmetro: 205 nm (máx) / 244 nm (min) / 272 nm (máx)

Limite: Exatidão ± 2nm


Teste: Noise to Drift

Parâmetro: ASTM baseline e a regressão linear para o drift

Limite: Noise ≤ 0,040 mAU / Drift ± 0,500 mAU/h


Teste: Signal to Noise

Parâmetro: Altura do Sinal/ASTM Noise

Limite: ≥ 3000



  • Forno de Coluna:

Teste: Exatidão, estabilidade e incerteza da temperatura do forno

Parâmetro: Temperatura 1: 25°C / Temperatura 2: 30°C / Temperatura 3: 60°C

Limite: Exatidão ± 1,0°C / Estabilidade < 1,0°C / Incerteza < 0,5°C


3. Qualificação de Desempenho (QD)

A QD avalia o desempenho do equipamento sob condições reais de uso. São utilizados padrões rastreáveis para testar parâmetros como:

Teste: System Suitability Test (SST)

Parâmetro: Assimetria do Pico / Pratos Teóricos

Limite: 0,8 - 1,6 / > 1500 (USP)


Teste: Precisão

Parâmetro: 10 Injeções

Limite: Área e Tempo de Retenção RSD ≤ 1,0%


Teste: Linearidade

Parâmetro: 5 Injeções de volumes de um padrão rastreável

Limite: r² ≥ 0,99900

O objetivo é garantir que o HPLC está fornecendo dados confiáveis e rastreáveis, fundamentais para a tomada de decisões analíticas.


4. Requalificação e Manutenção Preventiva

A qualificação não é um evento único, mas um processo contínuo. Requalificações periódicas e manutenções preventivas são essenciais para evitar falhas inesperadas e garantir conformidade regulatória.

Periodicidade da Qualificação do HPLC

A frequência da qualificação do HPLC depende de critérios regulatórios, exigências de qualidade e análise de risco do laboratório. Recomenda-se:


  • Qualificação inicial: Realizada antes do primeiro uso do equipamento;

  • Requalificação periódica: Normalmente a cada 12 meses, ou conforme definido na análise de risco;

  • Requalificação após manutenção corretiva: Sempre que houver troca de peças críticas (bomba, detector, válvulas);

  • Monitoramento contínuo: Testes intermediários de desempenho podem ser realizados regularmente para antecipar falhas.


A definição da periodicidade ideal deve ser baseada em registros históricos de desempenho e requisitos normativos.

Impacto da Qualificação na Confiabilidade Analítica

A falta de qualificação adequada do HPLC pode gerar erros analíticos, como:

❌ Desvios nos tempos de retenção, impactando a identificação de compostos;

Baixa reprodutibilidade, comprometendo a confiabilidade dos resultados;

Inconsistência na resposta do detector, prejudicando a quantificação;

Problemas de separação cromatográfica, afetando a resolução dos picos.

Em setores regulados, falhas na qualificação podem resultar em não conformidades durante auditorias, recall de produtos e perda de credibilidade do laboratório.


Conclusão

A qualificação de um cromatógrafo líquido (HPLC) é um investimento essencial para garantir confiabilidade analítica, rastreabilidade dos dados e conformidade regulatória. Laboratórios que implementam uma qualificação rigorosa minimizam riscos operacionais e asseguram a qualidade dos resultados analíticos.

Se você trabalha com HPLC, como está a qualificação dos seus equipamentos? Seu laboratório segue um cronograma definido? Compartilhe sua experiência nos comentários!


Referências Bibliográficas

  • ANVISA – Agência Nacional de Vigilância Sanitária. Guia para Validação de Métodos Analíticos e Bioanalíticos. 2012. Disponível em: https://www.gov.br/anvisa.

  • FDA – Food and Drug Administration. Analytical Procedures and Methods Validation for Drugs and Biologics. Guidance for Industry. FDA, 2015. Disponível em: https://www.fda.gov.

  • ICH – International Council for Harmonisation of Technical Requirements for Pharmaceuticals for Human Use. ICH Q2 (R1): Validation of Analytical Procedures: Text and Methodology, 2005. Disponível em: https://www.ich.org.

  • ISO – International Organization for Standardization. ISO/IEC 17025:2017 – General requirements for the competence of testing and calibration laboratories. Genebra: ISO, 2017.

  • USP – United States Pharmacopeia. Chapter <1058> Analytical Instrument Qualification. The United States Pharmacopeial Convention, 2022.


Edwin Bueno

Edwin Bueno é engenheiro químico com mais de 13 anos de experiência em laboratórios analíticos e ênfase em técnicas cromatograficas, atuando em centenas de projetos de alta complexidade voltados ao controle de qualidade, desenvolvimento de métodos e conformidade regulatória. É fundador e diretor técnico do laboratório analítico Atual Labs, reconhecido por sua atuação ágil nos setores de nutrição e saúde animal.

Além de sua atuação técnica, Edwin é consultor de laboratórios e indústrias, contribuindo na resolução de problemas analíticos, otimização de processos, estruturação de equipes técnicas, expansão laboratorial e gestão, implementação de boas práticas que asseguram qualidade, agilidade e robustez nos resultados.

Nosso blog

Nosso blog

Últimos artigos publicados

Últimos artigos publicados

28 de ago. de 2025

Volume de injeção: Como determinar a quantidade ideal?

A determinação do volume de injeção ideal representa um aspecto fundamental do desenvolvimento de métodos cromatográficos que merece atenção sistemática e científica.

28 de ago. de 2025

Volume de injeção: Como determinar a quantidade ideal?

A determinação do volume de injeção ideal representa um aspecto fundamental do desenvolvimento de métodos cromatográficos que merece atenção sistemática e científica.

28 de ago. de 2025

Volume de injeção: Como determinar a quantidade ideal?

A determinação do volume de injeção ideal representa um aspecto fundamental do desenvolvimento de métodos cromatográficos que merece atenção sistemática e científica.

26 de ago. de 2025

Tipos de eluentes: P.A., HPLC-grade, LC-MS grade, qual usar? Quais cuidados tomar?

A seleção adequada do grau de pureza dos eluentes é uma decisão técnica e econômica que requer avaliação cuidadosa das necessidades analíticas específicas.

26 de ago. de 2025

Tipos de eluentes: P.A., HPLC-grade, LC-MS grade, qual usar? Quais cuidados tomar?

A seleção adequada do grau de pureza dos eluentes é uma decisão técnica e econômica que requer avaliação cuidadosa das necessidades analíticas específicas.

26 de ago. de 2025

Tipos de eluentes: P.A., HPLC-grade, LC-MS grade, qual usar? Quais cuidados tomar?

A seleção adequada do grau de pureza dos eluentes é uma decisão técnica e econômica que requer avaliação cuidadosa das necessidades analíticas específicas.

21 de ago. de 2025

Ordem dos solventes no gradiente: Faz diferença? Sim, e explico por quê

A implementação de diretrizes baseadas em evidências científicas para a ordenação de solventes pode resolver problemas aparentemente inexplicáveis de instabilidade, variação e baixa reprodutibilidade.

21 de ago. de 2025

Ordem dos solventes no gradiente: Faz diferença? Sim, e explico por quê

A implementação de diretrizes baseadas em evidências científicas para a ordenação de solventes pode resolver problemas aparentemente inexplicáveis de instabilidade, variação e baixa reprodutibilidade.

21 de ago. de 2025

Ordem dos solventes no gradiente: Faz diferença? Sim, e explico por quê

A implementação de diretrizes baseadas em evidências científicas para a ordenação de solventes pode resolver problemas aparentemente inexplicáveis de instabilidade, variação e baixa reprodutibilidade.

Faça suas análises com quem é especialista em Nutrição Animal

Faça suas análises com
quem é especialista em
Nutrição Animal

Especialistas em CLAE, nós dominamos conservantes, antioxidantes, antibióticos
e vitaminas. Conformidade simultânea MAPA, ANVISA, INMETRO, FDA e EMA.

Especialistas em CLAE, nós dominamos conservantes, antioxidantes, antibióticos
e vitaminas. Conformidade simultânea MAPA, ANVISA, INMETRO, FDA e EMA.

Estr. Mun. André Sanches Cuenca, 251 – Box 2 – Curitibanos

Bragança Paulista – SP,

CEP 12929-735

Recursos

Área logada

© Copyright 2025, Todos os direitos reservados por Atuallabs

Estr. Mun. André Sanches Cuenca,
251 – Box 2 – Curitibanos

Bragança Paulista – SP,

CEP 12929-735

Recursos

Área logada

© Copyright 2025, Todos os direitos reservados por Atuallabs