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O pHmetro é um dos equipamentos mais utilizados em laboratórios de química, alimentos, farmacêutica, veterinária e meio ambiente. Apesar de sua aparente simplicidade, um pHmetro mal calibrado ou não qualificado pode comprometer seriamente a precisão das análises, impactando diretamente a qualidade de produtos e decisões laboratoriais.
Mas você sabe como garantir que seu pHmetro esteja realmente confiável? A qualificação do pHmetro é essencial para garantir que suas medições sejam precisas, reprodutíveis e rastreáveis.
Neste artigo, vamos explorar os princípios da qualificação do pHmetro, suas principais etapas, a diferença entre qualificação e calibração e a periodicidade recomendada para manter o equipamento sempre em conformidade.
O que é Qualificação de Equipamentos?
A qualificação de um pHmetro é um processo documentado que assegura que o equipamento:
✅ Foi instalado corretamente.
✅ Opera conforme as especificações do fabricante.
✅ Garante medições confiáveis e reprodutíveis.
A qualificação segue diretrizes de órgãos reguladores como ANVISA, FDA, EMA e padrões como ISO 17025 e GMP (Good Manufacturing Practices). Sem um processo estruturado de qualificação, as medições de pH podem perder sua confiabilidade, afetando diretamente produtos, processos e conformidade regulatória.
Etapas da Qualificação de um pHmetro
A qualificação do pHmetro segue as mesmas etapas fundamentais da qualificação de qualquer equipamento analítico:
1. Qualificação de Instalação (QI)
Nesta fase, verifica-se se o equipamento foi instalado corretamente e se o ambiente de operação está adequado. Isso inclui:
Verificação da infraestrutura:
Teste: Transporte do Sistema
Parâmetro: Aprovado
Limite: Aprovado
Teste: Checagem do Espaço Físico e Bancada
Parâmetro: Aprovado
Limite: Aprovado
Teste: Condições Ambientais do Local a Ser Instalado
Parâmetro: Temperatura e Umidade Relativa do Ar
Limite: Temperatura Ambiente: 20 a 25°C Umidade Rel. do Ar: ≤ 75%
Teste: Checagem da Voltagem Elétrica e tomadas de Acordo com a Norma ABNT
Parâmetro: 110/220V
Limite: 117 a 127V / 217 a 227V / 2V para o terra
Conferência dos componentes:
Teste: Inspeção Visual do Equipamento
Parâmetro: Aprovado
Limite: Aprovado
Teste: Verificação de Acessórios do Equipamento
Parâmetro: Aprovado
Limite: Aprovado
Teste: Execução de todas as verificações e testes descritas no protocolo
Parâmetro: Aprovado
Limite: Aprovado
Teste: Checagem de Inicialização do Sistema
Parâmetro: Nenhuma Mensagem de Erro
Limite: Nenhum Erro Evidenciado
Teste: Teste de Impressão
Parâmetro: Nenhuma Mensagem de Erro
Limite: Nenhum Erro Evidenciado
Registro dos certificados: de conformidade e manuais técnicos.
2. Qualificação de Operação (QO)
A QO tem como objetivo garantir que o pHmetro funciona corretamente dentro das especificações do fabricante. Alguns testes incluem:
Teste: Calibração mV
Parâmetro: Maleta Simuladora
Limite: ± 2,0mV
Teste: Calibração do pH
Parâmetro: Buffer Padrão de 4,0 / 7,0 / 10,0
Limite: ± 0,1
3. Qualificação de Desempenho (QD)
A QD verifica se o pHmetro fornece resultados precisos e reprodutíveis sob condições reais de uso. Nessa fase, são testados:
Teste: Resposta do Eletrodo
Parâmetro: Slope Calculado Pelo Software
Limite: 95-105%
Teste: Checagem do Padrão
Parâmetro: Leitura de Padrões
Limite: ± 0,1
4. Requalificação e Manutenção Preventiva
A qualificação não é um evento único. Para garantir a confiabilidade contínua, o pHmetro deve passar por requalificações periódicas e manutenções preventivas, especialmente para substituição do eletrodo, que tem uma vida útil limitada.
Qualificação x Calibração: Qual a Diferença?
É muito comum confundir qualificação e calibração, mas são processos distintos:
Qualificação do pHmetro = Avalia todo o sistema (equipamento, eletrodo, software) e garante que ele está instalado corretamente, funcionando conforme especificações e gerando resultados confiáveis.
Calibração do pHmetro = Ajusta e verifica apenas a precisão das medições, comparando com soluções padrão e corrigindo eventuais desvios.
Importante: Um pHmetro pode estar calibrado, mas ainda assim não qualificado, se não houver evidências de que sua instalação, operação e desempenho foram validados adequadamente.
Periodicidade da Qualificação do pHmetro
A frequência da qualificação do pHmetro deve seguir uma abordagem baseada em risco, considerando o impacto das medições no processo analítico. Recomenda-se:
Qualificação inicial: Antes do primeiro uso do equipamento.
Requalificação periódica: Anualmente, ou conforme análise de risco do laboratório.
Requalificação após manutenção corretiva: Sempre que houver troca de eletrodo ou atualização de software.
Monitoramento contínuo: Realização de calibrações frequentes e testes intermediários de desempenho.
Laboratórios acreditados pela ISO 17025 ou regulados por normas GMP devem estabelecer e documentar procedimentos internos para definir a periodicidade adequada.
Impacto da Qualificação na Confiabilidade Analítica
A ausência de uma qualificação adequada pode levar a problemas como:
❌ Resultados inconsistentes e baixa reprodutibilidade;
❌ Erros críticos em processos industriais, impactando a qualidade do produto final;
❌ Falhas em auditorias e não conformidades regulatórias;
❌ Desperdício de tempo e recursos com retrabalho em análises.
Por outro lado, um pHmetro qualificado e bem mantido garante:
✅ Dados confiáveis e rastreáveis;
✅ Maior eficiência e segurança nos processos laboratoriais;
✅ Conformidade com normas regulatórias;
✅ Redução de custos com falhas analíticas e desperdício de reagentes.
Conclusão
A qualificação do pHmetro é um processo essencial para garantir precisão, confiabilidade e conformidade regulatória nas medições laboratoriais. Não basta apenas calibrar – é fundamental qualificar o equipamento para assegurar que todas as etapas de instalação, operação e desempenho estejam validadas.
Se você trabalha com pHmetro no laboratório, como está a qualificação do seu equipamento? Seu laboratório segue um cronograma adequado? Compartilhe sua experiência nos comentários! 👇💬
Referências Bibliográficas
ANVISA – Agência Nacional de Vigilância Sanitária. Guia para Validação de Métodos Analíticos e Bioanalíticos. 2012. Disponível em: https://www.gov.br/anvisa.
FDA – Food and Drug Administration. Analytical Procedures and Methods Validation for Drugs and Biologics. Guidance for Industry. FDA, 2015. Disponível em: https://www.fda.gov.
ICH – International Council for Harmonisation of Technical Requirements for Pharmaceuticals for Human Use. ICH Q2 (R1): Validation of Analytical Procedures: Text and Methodology, 2005. Disponível em: https://www.ich.org.
ISO – International Organization for Standardization. ISO/IEC 17025:2017 – General requirements for the competence of testing and calibration laboratories. Genebra: ISO, 2017.
USP – United States Pharmacopeia. Chapter <791> pH. The United States Pharmacopeial Convention, 2022.
Edwin Bueno é engenheiro químico com mais de 13 anos de experiência em laboratórios analíticos e ênfase em técnicas cromatograficas, atuando em centenas de projetos de alta complexidade voltados ao controle de qualidade, desenvolvimento de métodos e conformidade regulatória. É fundador e diretor técnico do laboratório analítico Atual Labs, reconhecido por sua atuação ágil nos setores de nutrição e saúde animal.
Além de sua atuação técnica, Edwin é consultor de laboratórios e indústrias, contribuindo na resolução de problemas analíticos, otimização de processos, estruturação de equipes técnicas, expansão laboratorial e gestão, implementação de boas práticas que asseguram qualidade, agilidade e robustez nos resultados.





