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A cromatografia líquida de alta eficiência (HPLC – High Performance Liquid Chromatography) é uma das técnicas analíticas mais utilizadas em laboratórios farmacêuticos, veterinários, alimentícios e ambientais. No entanto, a confiabilidade dos dados gerados depende diretamente da qualificação do equipamento, garantindo que ele opere dentro de especificações e forneça resultados precisos e reprodutíveis.
Mas quais são as etapas essenciais da qualificação de um HPLC? Como diferenciar esse processo da calibração? E qual deve ser a periodicidade da qualificação? Vamos explorar esses tópicos neste artigo.
Qualificação de Equipamentos: O que é e por que é necessária?
A qualificação do HPLC consiste em um conjunto de testes documentados que comprovam que o equipamento foi instalado corretamente, opera conforme especificações técnicas e fornece resultados confiáveis.
Este processo segue diretrizes rigorosas de órgãos reguladores como ANVISA, FDA e EMA, além de normas como ISO 17025 e GMP (Good Manufacturing Practices).
Uma qualificação inadequada pode comprometer a precisão das análises, levando a resultados incorretos, retrabalho e até mesmo problemas regulatórios.
Etapas da Qualificação de um Cromatógrafo Líquido
A qualificação do HPLC ocorre em quatro etapas fundamentais:
1. Qualificação de Instalação (QI)
Garante que o equipamento foi instalado corretamente e de acordo com as especificações do fabricante. Inclui:
Verificação da infraestrutura:
Teste: Transporte do Sistema
Parâmetro: Aprovado
Limite: Aprovado
Teste: Checagem do Espaço Físico e Bancada
Parâmetro: Aprovado
Limite: Aprovado
Teste: Condições Ambientais do Local a Ser Instalado
Parâmetro: Temperatura e Umidade Relativa do Ar
Limite: Temperatura Ambiente: 20 a 25°C Umidade Rel. do Ar: ≤ 75%
Teste: Checagem da Voltagem Elétrica e tomadas de Acordo com a Norma ABNT
Parâmetro: 110/220V
Limite: 117 a 127V / 217 a 227V / 2V para o terra
Conferência dos componentes:
Teste: Inspeção Visual do Equipamento
Parâmetro: Aprovado
Limite: Aprovado
Teste: Verificação de Acessórios do Equipamento
Parâmetro: Aprovado
Limite: Aprovado
Teste: Execução de todas as verificações e testes descritas no protocolo
Parâmetro: Aprovado
Limite: Aprovado
Teste: Checagem de Inicialização do Sistema
Parâmetro: Nenhuma Mensagem de Erro
Limite: Nenhum Erro Evidenciado
Registro dos certificados: de conformidade e manuais técnicos.
2. Qualificação de Operação (QO)
Nesta fase, são realizados testes para validar que cada módulo do HPLC opera corretamente dentro das especificações. Isso inclui:
Bomba (400bar):
Teste: Exatidão do Gradiente
Parâmetro: 10%, 50%, 90% e 100% AB e CD
Limite: ± 1%
Teste: Exatidão e Precisão do Fluxo
Parâmetro: 0,5 / 1,0 / 2,0mL/min
Limite: ± 1% e RSD ≤ 0,5%
Injetor automático:
Teste: Precisão do Volume de Injeção
Parâmetro: 10, 20 e 30uL
Limite: Área RSD ≤ 0,5%
Teste: Carry Over
Parâmetro: 20uL
Limite: Área Carry Over ≤ 0,20%
Teste: Exatidão da temperatura dos vials
Parâmetro: Temperatura: 4,0°C
Limite: Desvio ± 2,0°C
Detector (UV):
Teste: Linearidade
Parâmetro: 6 injeções de volumes de um padrão rastreável
Limite: r² ≥ 0,99900
Teste: Exatidão do Comprimento de Onda
Parâmetro: 205 nm (máx) / 244 nm (min) / 272 nm (máx)
Limite: Exatidão ± 2nm
Teste: Noise to Drift
Parâmetro: ASTM baseline e a regressão linear para o drift
Limite: Noise ≤ 0,040 mAU / Drift ± 0,500 mAU/h
Teste: Signal to Noise
Parâmetro: Altura do Sinal/ASTM Noise
Limite: ≥ 3000
Forno de Coluna:
Teste: Exatidão, estabilidade e incerteza da temperatura do forno
Parâmetro: Temperatura 1: 25°C / Temperatura 2: 30°C / Temperatura 3: 60°C
Limite: Exatidão ± 1,0°C / Estabilidade < 1,0°C / Incerteza < 0,5°C
3. Qualificação de Desempenho (QD)
A QD avalia o desempenho do equipamento sob condições reais de uso. São utilizados padrões rastreáveis para testar parâmetros como:
Teste: System Suitability Test (SST)
Parâmetro: Assimetria do Pico / Pratos Teóricos
Limite: 0,8 - 1,6 / > 1500 (USP)
Teste: Precisão
Parâmetro: 10 Injeções
Limite: Área e Tempo de Retenção RSD ≤ 1,0%
Teste: Linearidade
Parâmetro: 5 Injeções de volumes de um padrão rastreável
Limite: r² ≥ 0,99900
O objetivo é garantir que o HPLC está fornecendo dados confiáveis e rastreáveis, fundamentais para a tomada de decisões analíticas.
4. Requalificação e Manutenção Preventiva
A qualificação não é um evento único, mas um processo contínuo. Requalificações periódicas e manutenções preventivas são essenciais para evitar falhas inesperadas e garantir conformidade regulatória.
Periodicidade da Qualificação do HPLC
A frequência da qualificação do HPLC depende de critérios regulatórios, exigências de qualidade e análise de risco do laboratório. Recomenda-se:
Qualificação inicial: Realizada antes do primeiro uso do equipamento;
Requalificação periódica: Normalmente a cada 12 meses, ou conforme definido na análise de risco;
Requalificação após manutenção corretiva: Sempre que houver troca de peças críticas (bomba, detector, válvulas);
Monitoramento contínuo: Testes intermediários de desempenho podem ser realizados regularmente para antecipar falhas.
A definição da periodicidade ideal deve ser baseada em registros históricos de desempenho e requisitos normativos.
Impacto da Qualificação na Confiabilidade Analítica
A falta de qualificação adequada do HPLC pode gerar erros analíticos, como:
❌ Desvios nos tempos de retenção, impactando a identificação de compostos;
❌ Baixa reprodutibilidade, comprometendo a confiabilidade dos resultados;
❌ Inconsistência na resposta do detector, prejudicando a quantificação;
❌ Problemas de separação cromatográfica, afetando a resolução dos picos.
Em setores regulados, falhas na qualificação podem resultar em não conformidades durante auditorias, recall de produtos e perda de credibilidade do laboratório.
Conclusão
A qualificação de um cromatógrafo líquido (HPLC) é um investimento essencial para garantir confiabilidade analítica, rastreabilidade dos dados e conformidade regulatória. Laboratórios que implementam uma qualificação rigorosa minimizam riscos operacionais e asseguram a qualidade dos resultados analíticos.
Se você trabalha com HPLC, como está a qualificação dos seus equipamentos? Seu laboratório segue um cronograma definido? Compartilhe sua experiência nos comentários!
Referências Bibliográficas
ANVISA – Agência Nacional de Vigilância Sanitária. Guia para Validação de Métodos Analíticos e Bioanalíticos. 2012. Disponível em: https://www.gov.br/anvisa.
FDA – Food and Drug Administration. Analytical Procedures and Methods Validation for Drugs and Biologics. Guidance for Industry. FDA, 2015. Disponível em: https://www.fda.gov.
ICH – International Council for Harmonisation of Technical Requirements for Pharmaceuticals for Human Use. ICH Q2 (R1): Validation of Analytical Procedures: Text and Methodology, 2005. Disponível em: https://www.ich.org.
ISO – International Organization for Standardization. ISO/IEC 17025:2017 – General requirements for the competence of testing and calibration laboratories. Genebra: ISO, 2017.
USP – United States Pharmacopeia. Chapter <1058> Analytical Instrument Qualification. The United States Pharmacopeial Convention, 2022.
Edwin Bueno é engenheiro químico com mais de 13 anos de experiência em laboratórios analíticos e ênfase em técnicas cromatograficas, atuando em centenas de projetos de alta complexidade voltados ao controle de qualidade, desenvolvimento de métodos e conformidade regulatória. É fundador e diretor técnico do laboratório analítico Atual Labs, reconhecido por sua atuação ágil nos setores de nutrição e saúde animal.
Além de sua atuação técnica, Edwin é consultor de laboratórios e indústrias, contribuindo na resolução de problemas analíticos, otimização de processos, estruturação de equipes técnicas, expansão laboratorial e gestão, implementação de boas práticas que asseguram qualidade, agilidade e robustez nos resultados.





