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O System Suitability Test (SST) ou Teste de Adequação do Sistema é um procedimento fundamental para garantir que um sistema cromatográfico esteja operando de maneira apropriada antes da análise de amostras. O objetivo do SST é avaliar se o sistema HPLC atende aos critérios de desempenho estabelecidos, garantindo a confiabilidade dos resultados e a reprodutibilidade do método analítico.
As diretrizes para o SST são regulamentadas por diferentes farmacopeias internacionais, incluindo a United States Pharmacopeia (USP), a European Pharmacopoeia (Ph. Eur.) e a Japanese Pharmacopoeia (JP). Embora haja variações nos critérios entre essas regulamentações, os princípios básicos do teste permanecem semelhantes.
Este artigo apresenta os principais parâmetros avaliados no SST, os requisitos estabelecidos pelas farmacopeias e a importância desse teste na rotina laboratorial.
1. O que é o System Suitability Test (SST)?
O SST é um conjunto de testes que verifica a eficiência, seletividade, reprodutibilidade e exatidão de um sistema HPLC antes da análise de amostras. Esse teste é essencial para garantir que os resultados sejam confiáveis e que o sistema esteja adequado para a separação cromatográfica pretendida.
Os parâmetros analisados no SST incluem:
Eficiência da coluna (número de pratos teóricos - N)
Fator de cauda (Tailing Factor - TF)
Precisão do sistema (repetibilidade dos tempos de retenção e áreas dos picos)
Resolução entre os picos (Rs)
Fator de retenção (k’)
Razão sinal/ruído (S/N)
Cada farmacopeia apresenta requisitos específicos para esses parâmetros, garantindo que o método analítico seja adequado e que o sistema cromatográfico esteja operando dentro dos limites aceitáveis.
2. Parâmetros Avaliados no SST de Acordo com as Farmacopeias
2.1. Eficiência da Coluna (Número de Pratos Teóricos - N)
A eficiência da coluna está relacionada à capacidade da fase estacionária de gerar picos estreitos e bem resolvidos. Um número maior de pratos teóricos indica maior eficiência cromatográfica.
USP: Exige um valor mínimo para N, definido durante a validação do método.
Ph. Eur.: Recomenda um valor mínimo de N, frequentemente relacionado à substância de referência utilizada.
JP: Similar às diretrizes da USP e da Ph. Eur., especificando critérios para garantir a reprodutibilidade do método.
2.2. Fator de Cauda (Tailing Factor - TF ou Asymmetry Factor - As)
O fator de cauda mede a simetria dos picos cromatográficos. Valores elevados indicam distorção no pico, podendo comprometer a quantificação dos analitos.
USP: Define um limite para o Tailing Factor, geralmente ≤ 2.0.
Ph. Eur.: Usa o fator de assimetria (As), geralmente aceitando valores entre 0.8 e 1.8.
JP: Aplica critérios semelhantes, garantindo que os picos não apresentem caudas excessivas.
2.3. Precisão do Sistema (Repetibilidade dos Tempos de Retenção e Áreas dos Picos)
A repetibilidade do sistema é avaliada por meio da análise de pelo menos cinco injeções consecutivas do padrão. O desvio padrão relativo (RSD) dos tempos de retenção e das áreas dos picos deve estar dentro de limites aceitáveis.
USP: Exige que o RSD da área dos picos seja ≤ 2.0% para cinco injeções consecutivas.
Ph. Eur.: Recomenda um RSD máximo de ≤ 2.0%, dependendo da concentração do analito.
JP: Apresenta critérios semelhantes, garantindo precisão e reprodutibilidade.
2.4. Resolução entre os Picos (Rs)
A resolução entre os picos adjacentes deve ser suficiente para evitar coeluições e garantir a correta quantificação dos analitos.
USP: Exige um valor mínimo de 1.5 para picos críticos.
Ph. Eur.: Define valores mínimos de resolução, podendo variar conforme o método.
JP: Aplica requisitos semelhantes, garantindo separação adequada dos compostos.
2.5. Fator de Retenção (k’)
O fator de retenção está relacionado à interação dos analitos com a fase estacionária e deve estar dentro de um intervalo adequado para evitar retenção excessiva ou eluição precoce.
USP: Recomenda valores de 0.5 a 20, dependendo do método.
Ph. Eur.: Apresenta diretrizes semelhantes, garantindo tempos de retenção adequados.
JP: Mantém critérios compatíveis com as demais farmacopeias.
2.6. Razão Sinal/Ruído (S/N) para Análises de Traços
Para análises de impurezas ou compostos em baixas concentrações, a relação sinal/ruído deve ser avaliada para garantir sensibilidade adequada.
USP: Exige uma relação S/N ≥ 10 para limites de quantificação (LOQ) e S/N ≥ 3 para limites de detecção (LOD).
Ph. Eur.: Segue critérios semelhantes, garantindo sensibilidade adequada.
JP: Mantém requisitos compatíveis com as diretrizes internacionais.
3. Importância da Implementação do SST
A realização do SST é essencial para assegurar que o sistema cromatográfico está operando de forma adequada e que os resultados analíticos são confiáveis. A ausência desse teste pode comprometer a qualidade dos dados, levando a interpretações errôneas e possíveis não conformidades em auditorias e inspeções regulatórias.
Entre os principais benefícios da implementação rigorosa do SST, destacam-se:
Prevenção de falhas analíticas, garantindo que o sistema esteja adequado antes da análise das amostras.
Redução de desperdício de reagentes e tempo, evitando retrabalho devido a falhas no sistema.
Atendimento a requisitos regulatórios, garantindo conformidade com as farmacopeias internacionais.
Melhoria da confiabilidade dos resultados, assegurando que os métodos analíticos fornecem dados precisos e reprodutíveis.
Conclusão
O System Suitability Test (SST) é um requisito essencial para a validação e monitoramento do desempenho dos sistemas HPLC. As farmacopeias USP, Ph. Eur. e JP estabelecem critérios rigorosos para garantir que os métodos analíticos sejam confiáveis e reprodutíveis.
A implementação correta do SST reduz o risco de falhas analíticas, melhora a produtividade do laboratório e assegura a conformidade com normas regulatórias. A adoção de boas práticas na execução desse teste contribui diretamente para a qualidade e robustez dos dados gerados em análises cromatográficas.
Referências Bibliográficas
United States Pharmacopeia (USP) (2021). USP General Chapter <621> Chromatography.
European Pharmacopoeia (Ph. Eur.) (2021). Chapter 2.2.46 - Chromatographic Separation Techniques.
Japanese Pharmacopoeia (JP) (2021). General Test - Chromatography.
Snyder, L. R., Kirkland, J. J., & Dolan, J. W. (2011). Introduction to Modern Liquid Chromatography (3rd ed.). John Wiley & Sons.
Huber, L. (2018). Validation and Qualification in Analytical Laboratories. CRC Press.
Edwin Bueno é engenheiro químico com mais de 13 anos de experiência em laboratórios analíticos e ênfase em técnicas cromatograficas, atuando em centenas de projetos de alta complexidade voltados ao controle de qualidade, desenvolvimento de métodos e conformidade regulatória. É fundador e diretor técnico do laboratório analítico Atual Labs, reconhecido por sua atuação ágil nos setores de nutrição e saúde animal.
Além de sua atuação técnica, Edwin é consultor de laboratórios e indústrias, contribuindo na resolução de problemas analíticos, otimização de processos, estruturação de equipes técnicas, expansão laboratorial e gestão, implementação de boas práticas que asseguram qualidade, agilidade e robustez nos resultados.





