Técnica de Salting-Out na extração para HPLC: Tudo o que você precisa saber

Técnica de Salting-Out na extração para HPLC: Tudo o que você precisa saber

O uso racional da técnica de salting-out pode representar um diferencial técnico importante para laboratórios que buscam eficiência e desempenho mesmo em contextos de alta demanda analítica.

O uso racional da técnica de salting-out pode representar um diferencial técnico importante para laboratórios que buscam eficiência e desempenho mesmo em contextos de alta demanda analítica.

Por Edwin Bueno

Por Edwin Bueno

31 de julho de 2025

31 de julho de 2025

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A eficiência de uma análise por HPLC depende não apenas da instrumentação e do método cromatográfico, mas também de uma etapa anterior muitas vezes negligenciada: o preparo da amostra. Entre as diversas estratégias existentes, a técnica de extração por salting-out tem se destacado como uma abordagem versátil, eficiente e de baixo custo, especialmente quando se trabalha com matrizes complexas ou compostos de difícil solubilização.

Neste artigo, exploramos a fundo o conceito, os mecanismos e a aplicação prática da técnica de salting-out, demonstrando como ela pode ser uma aliada poderosa no desenvolvimento analítico.

1. O que é Salting-Out?

Salting-out é um fenômeno baseado na redução da solubilidade de compostos orgânicos polares em uma fase aquosa devido à adição de sais inorgânicos. Em outras palavras, sais como sulfato de amônio, cloreto de sódio ou citrato de sódio aumentam a força iônica da solução, reduzindo a atividade da água e forçando a partição de compostos orgânicos para uma fase menos polar geralmente solventes miscíveis com água, como acetonitrila.

Esse princípio é utilizado de maneira controlada na etapa de preparo de amostras para promover a separação eficiente entre analitos de interesse e interferentes presentes na matriz.

2. Fundamentos Físico-Químicos

A adição de sal compete com os analitos pelas moléculas de água. Com menos moléculas de água disponíveis para solubilização, os analitos passam a migrar para uma fase orgânica presente, facilitando sua extração. Isso é possível mesmo com solventes parcialmente miscíveis com água (como a acetonitrila), que se separam na presença de certos sais. O comportamento pode ser descrito por uma combinação de efeitos termodinâmicos, envolvendo a atividade da água e o coeficiente de partição.

3. Condições Experimentais e Fatores Críticos

A eficiência do salting-out depende de diversos fatores experimentais:

  • Tipo de sal: Diferentes ânions e cátions promovem o salting-out em intensidades distintas. Sais com maior força iônica e menor hidratação são mais eficazes.

  • Concentração de sal: Há uma concentração ótima para maximizar a separação sem causar precipitação excessiva ou perdas analíticas.

  • Relação solvente: Água: Solventes como acetonitrila ou metanol são frequentemente utilizados, devendo-se ajustar o volume conforme o tipo de amostra.

  • Agitação e centrifugação: São necessárias para promover a separação eficiente das fases e garantir recuperação quantitativa.


4. Seleção de Sal e a Série de Hofmeister

Nem todo sal apresenta o mesmo comportamento em soluções aquosas. A escolha do sal é crítica e está fundamentada na série de Hofmeister, uma classificação de íons segundo sua capacidade de precipitar proteínas e modular a estrutura da água.

A série original classifica ânions da seguinte forma (da maior para a menor capacidade de salting-out):

SO₄²⁻ > HPO₄²⁻ > CH₃COO⁻ > Cl⁻ > NO₃⁻ > ClO₄⁻ > SCN⁻

E cátions como:

NH₄⁺ > K⁺ > Na⁺ > Li⁺ > Mg²⁺ > Ca²⁺

Os íons mais à esquerda da série são chamados kosmotrópicos (estruturadores da água) e promovem com mais eficiência o salting-out, enquanto os íons caotrópicos (desestruturadores da água) tendem a aumentar a solubilidade de compostos orgânicos.

Assim, sais como sulfato de amônio ((NH₄)₂SO₄) e citrato de sódio são geralmente mais eficazes para promover a separação de fases com acetonitrila do que sais como nitrato de sódio ou perclorato.

A compreensão da série de Hofmeister é essencial para o desenvolvimento racional da técnica, especialmente quando se busca máxima recuperação com mínima interferência.

5. Aplicações Práticas em HPLC

A técnica é amplamente utilizada em:

  • Extração de pesticidas em alimentos e matrizes vegetais.

  • Extração de antibióticos e fármacos em fluídos biológicos.

  • Pré-concentração de metabólitos ou biomarcadores.

  • Análise de compostos polares em matrizes aquosas.

Sua grande vantagem é permitir o uso direto do sobrenadante orgânico (geralmente acetonitrila) na injeção no sistema HPLC, com mínima preparação adicional.

6. Comparação com Outras Técnicas de Preparo

Embora menos sofisticada que SPE ou SPME, a técnica de salting-out tem vantagens importantes:

  • Menor custo operacional.

  • Tempo de preparo reduzido.

  • Compatibilidade com acoplamento direto ao HPLC.

  • Boa recuperação para compostos moderadamente polares.

Entretanto, não é adequada para compostos extremamente hidrofóbicos ou altamente solúveis em água, que exigem abordagens mais específicas.

7. Integração com Métodos Validados

Muitos protocolos já validados (como métodos QuEChERS) incorporam o salting-out como parte essencial da extração. Ao adaptar essa técnica, é fundamental avaliar parâmetros como recuperação, repetibilidade, efeito matriz e estabilidade dos analitos.


Conclusão

O uso racional da técnica de salting-out pode representar um diferencial técnico importante para laboratórios que buscam eficiência e desempenho mesmo em contextos de alta demanda analítica. Em conjunto com um bom design experimental e avaliação de robustez, ela amplia significativamente as possibilidades de preparo de amostras para HPLC.

A extração por salting-out é uma ferramenta estratégica no arsenal do químico analítico, capaz de transformar um preparo de amostra limitado em um processo altamente eficiente e compatível com cromatografia líquida moderna. Seu domínio técnico permite ganhos significativos em seletividade, sensibilidade e reprodutibilidade das análises, especialmente em matrizes complexas onde métodos tradicionais falham.


Referências Bibliográficas

  • Snyder, L. R., Kirkland, J. J., & Dolan, J. W. (2011). Introduction to Modern Liquid Chromatography. Wiley.

  • Harris, D. C. (2015). Quantitative Chemical Analysis. W.H. Freeman and Company.

  • Anastassiades, M. et al. (2003). Fast and Easy Multiresidue Method Employing Acetonitrile Extraction/Partitioning and "Dispersive Solid-Phase Extraction" for the Determination of Pesticide Residues in Produce. Journal of AOAC International.

  • Bajer, T., & Solich, P. (2016). Sample preparation using salting-out assisted liquid–liquid extraction for HPLC. TrAC Trends in Analytical Chemistry.


Edwin Bueno

Edwin Bueno é engenheiro químico com mais de 13 anos de experiência em laboratórios analíticos e ênfase em técnicas cromatograficas, atuando em centenas de projetos de alta complexidade voltados ao controle de qualidade, desenvolvimento de métodos e conformidade regulatória. É fundador e diretor técnico do laboratório analítico Atual Labs, reconhecido por sua atuação ágil nos setores de nutrição e saúde animal.

Além de sua atuação técnica, Edwin é consultor de laboratórios e indústrias, contribuindo na resolução de problemas analíticos, otimização de processos, estruturação de equipes técnicas, expansão laboratorial e gestão, implementação de boas práticas que asseguram qualidade, agilidade e robustez nos resultados.

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